Faltou combustível para a Globo aprofundar a novela além do imperador
“Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo”
(Caetano Veloso, Língua, 1984, do álbum Velô, serve também para os animais irracionais da GloboNews e do Multishow)

Fábio Rocha/Rede Globo/Divulgação/09.08.2021
A Rede Globo vai encerrar sua novela Nos Tempos do Imperador sem ter cumprido a sua missão – a de ir até os tempos dos governadores que tomaram conta do Rio de Janeiro depois que a cidade deixou de ser capital da República, em 1960. Material para isso há e fica a dica: por que não produzir Nos Tempos do Governador (para falar de Sérgio Cabral e suas mamatas) e Nos Templos do Crivella (o que4 a Globo quer é dinheiro na sua propaganda)? É plausível, mas a conjuntura da emissora deve escantear essas coisas.
Não vejo novela de nenhum horário há bastante tempo. Ver novela deixou de ser obrigação. Os tempos mudaram. Cadernos de TV dos jornais perderam espaço e me seguro neste espaço apesar da pandemia e dos milicianos do Bolsonaro, que estão massacrando o que resta de jornalismo impresso, o que resta de imprensa profissional neste país. Cheia de “comunistas” (Selton Mello, Letícia Sabatella), Nos Tempos… foi execrada pelos herdeiros da família imperial do Brasil ainda vivos, inflados pelo bolsonarismo.
Longe de ser aula de história e ser recomendada para o Enem, Nos Tempos do Imperador reforça o verniz global de colocar novela das seis como produto de época. Isso desde a época em que Nívea Maria atuava na faixa, dirigida pelo finado Herval Rossano. Era o casal 20 do horário, antes da Globo mudar o conceito de novela das seis em 1982, com Paraíso, toda original e contemporânea, nas laudas de Benedito Ruy Barbosa e sua máquina de escrever. Em Pão Pão Beijo Beijo, Walter Negrão já usava um computador.
Não considero Nos Tempos do Imperador a última joia da coroa em termos de produção de novela dramática. A geração que consume através de redes sociais tem outro ditame. A dramaturgia da Rede Globo está parada no tempo. Faz uma coisa com o Google e pronto, para por aí. Ensaia ações tímidas, erráticas, de pouco resultado de audiência e sua preferência vai resvalar nas velhas reprises do canal pago Viva e de seu streaming. O telespectador mais novo parece não ter assimilado essa herança. Boa semana a todos.
Publicação simultânea com o Arte & Fest do Jornal Meio Norte da segunda (7/2)